domingo, 13 de maio de 2007

Memória
TEMPO DO POEMA
(Fragmento inicial)
de ALVARO DE SÁ

[ in Ponto 1. Rio, dezembro/1967 ]

o tempo do poema está delimitado por seu processo intrínseco e, principalmente, na realidade social aonde foi gerado.

em qualquer caso, porém, "esse tempo é um só - o de sua auto-superação" (wdp).

cada poema encerra um processo e é realmente novo se incorpora e supera proposições poéticas anteriores. este processo se gasta à medida que vai sendo explorado pelo consumidor e se desgasta quando é sobrepujado por um novo que o admita e exceda. a partir do momento que o poema está usado e apreendido em sua complexidade, ele se esgota; se engloba elementos de outro poema, o seu consumo total envelhece-o e, ainda que seja desconhecida a origem destes elementos, dá-se uma deterioração indireta dos mesmos - o poema de onde provieram apresentar-se-á, em um contato posterior, já parcialmente enfraquecido e caduco.

todo poema carrega, dentro de si, uma contradição - um processo que tende a se desenvolverem um novo poema, que o ultrapassará a partir das condições que ele mesmo criou, desgastando-o; o novo poema, resolvendo-se da mesma maneira, mantém o incessante devenir. mas a contradição do poema só terá possibilidades efetivas de auto-superar-se no instante socialmente necessário, pois tudo isto ocorre a mercê de uma realidade que existe em mutação contínua e onde a poesia é fração, desenvolvendo-se com leis particulares, subordinadas às leis dialéticas mais gerais da sociedade e do homem. assim as características internas do poema levam-no rumo à auto-superação que só se produz quando está totalmente ultrapassada a complexidade social que lhe serviu de contexto. aliás, desde seu início, a poesia tem sido uma mutação contínua onde escolas e estilos sucedem-se ininterruptamente, acompanhando as transformações maiores.

gasto e desgastado o poema deixa de vigorar. o poeta tem que perceber esta perspectiva: ele cria, dentro de sua existência social, para seu espaço e para seu momento e deve compreender a contradição do poema, lutando para resolvê-la no sentido do novo. este é o principal aspecto revolucionário do poeta, que progride sempre, auto-superando-se, sem procurar a expansão dos limites temporais que o próprio poema exige. ninguém cria poemas para o próximo centenário - daqui a cem anos circularão os poemas feitos por gente da época, para as necessidades da época.

poeta, o guardião do novo, aberto ao experimento nas linguagens, até os mais profundos resultados.

invertem o problema, os poetas institucionalizados. para eles o que importa é desenvolver um esforço frenante capaz de aumentar o período transitório de sua produção, porque quanto mais próxima estiver a poesia de seus (deles) moldes, tanto melhor para a sobrevivência de suas criações.


POEMA/PROCESSO de
ANSELMO SANTOS
(BA/RJ)
[ in Ponto 1 ]


Projeto 1967
Versão 2007


FFFFFFFFFFFFUSUSUSUSFFF
MMMMM$$$$$MMMMMMM
IIIIIIIIIIIIIII??????????IIIIIIII

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Nossos agradecimentos a BOSCO SOBREIRA, do Politicamente Incorreto, pela nova paginação do Poema/Processo 1967.

3 comentários:

o refúgio disse...

Moacy, cê sabe que eu não sou intelectual como você, por isso me perdoe por qualquer comentário idiota que eu fizer. mas lendo esse texto me lembrei de Marilena Chauí falando sobre o conceito de história, que história é práxis e o modo como as pessoas em determinadas condições tranformam sua realidade social.

História se faz no tempo assim como os poemas. esse é o processo.
é por aí ou estou delirando?

Um beijo
e parabéns por este blogue.

ah, que velocidade tem o poema do Anselmo, hein?

o refúgio disse...

com relação ao poema do Anselmo, falei da velocidade, né?

Time is money?????

Acho que tô "viajando" demais...

Moacy Cirne disse...

Não, Sandra, você não está delirando. E a versão do poema de Anselmo de fato implica VELOCIDADE. Um beijo.